Carta de Temer

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Ao convocar multidões em 7 de Setembro para desrespeitar a Constituição, Bolsonaro, líder que teme a verdade e odeia a democracia, cometeu grande erro. Como suas intenções não propiciaram resultados desejados, a invasão ao congresso e ao STF, intermediado pelas polícias militares, caminheiros, pessoal do agronegócio e do gado que é fanático, a vida seguiu normal no dia seguinte. Exercendo sua vocação de sindicalista, também estimulou caminhoneiros a bagunçar o país, intimidar o Supremo e gerar pretexto às ações de uso da força. Os caminhoneiros só recuaram a seu pedido três dias depois.
Então, o que fez Bolsonaro? Ligou para Michel Temer e aceitou sua sugestão em declarar-se à Nação. O próprio Temer acabou redigindo a carta e enviou a Bolsonaro que, após dois dias, publicou o manifesto divididos em 10 itens e, num deles, declara que nunca teve intenção de agredir quaisquer poderes. Entretanto, no dia da Independência, chamou o ministro do STF, Alexandre de Moraes, de ‘canalha’ e declarou, aos gritos, que não cumpriria mais nenhuma ordem judicial assinada pelo ministro. Esse “compromisso formal” escrito e assinado com a Nação é de moderação. O gesto criou grande complexidade nas bases bolsonaristas.
Michel Temer e seu marqueteiro, Elsinho Mouco, elaboraram o documento. Ao final, Temer, que é bom nas palavras, colheu os louros por ser o autor do texto pacifista. Bolsonaro enviou um avião da FAB para buscar o ex-presidente em São Paulo; no Palácio do Planalto, Temer intermediou conversa por celular, em viva voz, com Alexandre de Moraes, seu amigo há 20 anos – inclusive, foi de Temer a indicação à cadeira de ministro no STF. Na ocasião, Bolsonaro comentou com Moraes que só falou aquelas grosserias e ameaças num arroubo do calor do momento, afinando e desagradando seus fanáticos seguidores!
Bolsonaro dedicou seu mandato para criar crise atrás de crise, inflamando o Brasil e cometendo crimes de responsabilidade. Não foi eleito para ser pacífico, mas para governar: há um país que precisa ser governado! O atual cenário demonstra descontrole do dólar, desemprego assustador, inflação em 10%, fome, miséria, crise hídrica sem solução, devastação da Amazônia, disparada no preço de gás e combustíveis e quase 600 mil mortos pela pandemia do covid-19. Diante de tanta incompetência, entende-se a reticência e o desespero dos empresários. Dá para acreditar na trégua no golpismo de Bolsonaro?
Este governo faz mal à economia e ao ambiente de negócios brasileiros. Suas palavras provocam incertezas e daí mercados colapsam, inflação sobe e dólar dispara. Toda vez que Bolsonaro duvida da legitimidade das eleições, promete agir contrário à Constituição e ameaça desrespeitar decisões judiciais, causando danos à democracia brasileira. Ele falhou na gestão da crise sanitária e, por consequência, prejudicou também a economia: perdas irrecuperáveis cujos valores deixaram de ser gerados por causa das trapalhadas sanitárias, e não serão mais gerados.
A multidão é o sujeito social da loucura coletiva que se transforma ao longo dos seus atos. A facilidade irresponsável com que Bolsonaro atrai e aglutina medrosos é notório! Deseja-se vê-lo explicar a essa gente o item 9 da carta de Temer: “Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles”. É infantilidade imaginar que Bolsonaro parou, que não retrocederá. Usou Michel Temer na tentativa de colocar panos quentes sobre suas ameaças de 7 de Setembro: traiu e deixou mal os golpistas que lhe apoiaram através de discurso ultrapassado e autoritário.
O capitão ficou nu; não merece apoio. Basta sair à rua para constatar que o povo está sentindo na pele a destruição do país. O modelo miliciano de intimidação não funciona. A ameaça antidemocrática bolsonarista é um mal que vai durar por décadas no Brasil por isso é imprescindível pontuar que os repetitivos ataques bolsonaristas à ciência e à educação fazem parte de um projeto de desarmamento crítico do povo brasileiro.