EDUCAR X PUNIR Uma reflexão.

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Ensinar: transmitir experiência prática a alguém. Demonstrar como se faz algo. Transmitir conhecimento sobre algo. Por que não sobre comportamento? Sobre emoções?
Convido vocês a refletirem sobre a frase acima, mães, pais, professoras, coordenadoras e diretoras infantis. Por que quando uma criança não sabe ou não consegue se comportar ao invés de ensinar ainda tem gente que castiga? E por favor, chega de eufemismo! Não adianta suavizar a palavra punição ou castigo por cantinho do blá-blá-b lá. Tirou a criança do contexto sem ensinar e mandou ela para longe do adulto de referência é castigo.
Confundir punição e recompensas com disciplina é algo muito comum entre pais e professores. Assim como confundir desobediência com desrespeito. Muitas vezes uma criança não vai nos obedecer não porque ela nos desrespeita, mas porque em alguns casos elas ainda não estão preparadas cognitivamente ou emocionalmente para obedecer. Separar estes fatos nos coloca em melhor posição (e disposição) para EDUCAR.
Punir e recompensar são atitudes que os pais usam para manipular o comportamento dos filhos. Se você se comportar na casa da vovó, ganha um pirulito. Se fizer birra, não vai ganhar tal brinquedo, por exemplo. Algumas pessoas acreditam que nada será aprendido até que a criança receba uma punição, e ao puni-lo, deixam de lado outras alternativas de disciplina. A lógica parece ser: quem é bom é premiado, quem é mau é punido. Essas mensagens não ditas, porém executadas, ensinam a criança a depender do julgamento do outro como a base de sua própria moral. Sempre um ‘grande outro’ diz o que deve acontecer e os significados implícitos na cabecinha das crianças soa como: “sou bom X sou mau”. Pais e professores que se utilizam destas duas ações deixam de ensinar habilidades que as crianças precisariam aprender para se comportar melhor.
Mas aí que vem o problema, se torna um ciclo vira vicioso, quando se comportarem mal de novo serão novamente punidos por não estarem fazendo uso das então ditas habilidades que os próprios adultos deixaram de ensinar para dar lugar à um castigo. Existem outras formas de dar consequências para as ações de filhos e alunos. Formas que os ajudem a pensar sobre a escolha que fizeram e como isso afetará o que vai acontecer depois.
Quando se coloca a criança em um dito: “cantinho do pensamento” ou de “castigo na biblioteca”, estamos fazendo com que a criança tenha veja como ruim pensar, e ver a biblioteca como um lugar de castigo, ruim de estar, sendo que ambos são de excelentes formadores de adultos.
Isso ensina responsabilidade. Enquanto punições e recompensas são baseados em julgamentos, as consequências são baseadas em reflexão sobre o que houve: “eu fiz isso, daí aconteceu aquilo”. Ex: “eu joguei água no chão da sala, então a mamãe veio e guardou o meu copinho” ou “eu guardei meus brinquedos e daí meu quarto ficou limpo” Vejam que não há espaço para eu sou péssimo ou eu sou maravilhoso. Errar e acertar fazem parte da vida mas não nos definem como pessoa.
Se uma criança não sabe ler, nós ensinamos. Se uma criança não sabe nadar, nós ensinamos. Se uma criança não sabe se multiplicar, nós ensinamos. Se uma criança não sabe dirigir, nós
ensinamos. Se uma criança não sabe se comportar, nós Ensinamos? Punimos? Por que não podemos terminar a última frase automaticamente como fazemos com os outros?

Mariana Maciel, mestre em educação, escritora Editora Inverso, colunista Destaque Regional.